domingo, 8 de junho de 2014

VESTIBULANDO-CIGARRA NÃO NASCEU PRA SER DOUTOR

OSVALDO ARTHUR MENEZES VIEIRA
Professor, mestre em Letras (UFRGS)
Zero Hora
Ano após ano, tenho observado que o candidato que aprova no vestibular para uma tão concorrida vaga ao curso de Medicina é quem gosta de estudar, é quem se encanta com a possibilidade de aprender e de saber. E disso eu não tenho a menor dúvida. Os predicados, sabemos, são muitos. Agora, os que alcançam o seu objetivo não o logram sem disciplina, organização e humildade _ humildade para aceitar as orientações dos professores, que vivem para ensinar.
Geralmente, adolescentes e “adultescentes” são resistentes e por vezes erram por repetir os velhos costumes: estudar pouco, cabular aulas, dormir demais, inventar desculpas para o não cumprimento de tarefas, comer porcaria, ler quase nunca etc., etc., etc. E aí não há milagre que chegue a tempo, ainda mais quando a vida escolar também assim se deu _ na malandragem.
Quantos escamoteiam a leitura dos livros dispostos em lista pela UFRGS com a falsa ideia de que a leitura de um resumo (publicado em sites ou em livros) dará conta do recado? Será que o aluno que não lê nem as leituras obrigatórias aprovará num concurso vestibular famoso por sua concorrência?
Vestibular após vestibular, “trocentos” são os que desejam uma fórmula mágica para a aprovação, mas têm a maior dificuldade de caprichar a letra ao escrever a redação _ o til desaparece, a cedilha fica separada da letra cê, o pingo do i pinga no telhado do vizinho, ponto final pra quê?, maiúscula nunca foi tão minúscula… Pra ficarmos apenas com o exemplo da falta de caligrafia.
É constante a defesa de que “aprova quem ‘rateia’ menos na prova”. E o que fazer, professor, para não “ratear”? Ler, reler o enunciado! Administrar o que a questão pede é por vezes mais decisivo para acertar.
Nessa história de vestibular, um deus ex machina não entrará em ação _ lembre-se de que a Polícia Federal também está de olho nele. Mesmo assim, nós, professores, insistimos em rogar por uma intercessão divina. Ainda que possamos nos esquecer da fábula de Esopo, seu determinismo é certeiro: vestibulando-cigarra não nasceu pra ser doutor.

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