Há momentos na vida em que o Homem (aí subentendida a Mulher também) chega
assim a um promontório filosófico, de onde avista o caminho que já percorreu e
o caminho que ainda precisa andar ou, se ele tiver sorte e aparecer um táxi,
rodar. São momentos de grave introspecção em que o Homem faz um inventário de
si mesmo seus sonhos, suas desilusões, suas possibilidades, e onde diabo enfiei
o antiácido? e se faz perguntas. Valeu a pena? Devo continuar? Aproveito o
promontório e me atiro? Quem sou eu e por que estou aqui falando sozinho?
Do mesmo promontório metafórico podemos pensar no nosso lugar no mundo,
nisso tudo que não é Brasil e não sabe o que está perdendo. E sei que falo por
bilhões e bilhões de pessoas que frequentaram este planeta desde que éramos
apenas pré-hominídeos confusos, que não sabiam nem fazer fogo nem copular de
frente, quando concluo que não queria estar em outro planeta e, que, na média,
tem sido bom. Pelo que sabemos de outros planetas, nenhum se iguala ao nosso. Marte, já descobrimos, é um imenso
estacionamento. Outros estão em combustão permanente, não duraríamos dois
minutos em sua superfície. Dizem que há condições de vida humana numa das luas
de Saturno, mas os dias são longuíssimos, o que inviabilizaria as reuniões de
família aos domingos. Vivemos no mais conveniente dos mundos possíveis.
Está certo, fizemos bobagens. Guerras, filhos demais, sacanagem com os
outros, carros com rabo de peixe, neoliberalismo – mas também produzimos coisas
admiráveis. Dou só dois exemplos: a Catedral de Chartres e a Patrícia Pillar. E
nos divertimos, foi ou não foi? O planeta nos acolheu sem fazer perguntas, nos
deu a água e o oxigênio que precisávamos para sobreviver e ainda entrou com
alguns crepúsculos de brinde, sem falar em toda a parte decorativa, no cheiro
de capim molhado e no pudim de laranja. Obrigado, velho! Se não fizemos melhor
foi porque ainda não deu tempo. Afinal, 10 mil anos de história humana são o
quê? Apenas uma comichão no lado da Terra, que ela atribuiu a um mosquito.
É verdade que não temos retribuído à altura tudo que a Terra nos dá. Já
obliteramos cataratas, arrasamos florestas, enchemos o ar de sujeira,
destruímos a capa de ozônio e testamos a paciência da Natureza de mil outras
maneiras. A questão é se a atividade humana continua a ser desprezada pela
Terra, como coisa de insetos insignificantes, ou se todas as evidências de que
o clima enlouqueceu, os polos estão derretendo etc. são sinais de que a
Natureza está finalmente reagindo, e pretende nos varrer da face da Terra.
Talvez seja o caso de entendermos as indiretas e começarmos a pensar em
colonizar a tal lua de Saturno.
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